Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-03-08/discriminacao-de-genero-tira-mulheres-de-areas-exatas-e-preocupa-governo
Por Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma fila de meninos e outra de meninas. A forma de organização que realça a diferença de gênero está na memória escolar da maior parte dos brasileiros e ainda é uma prática comum nas escolas. O que é visto com muita naturalidade por todos os agentes do ambiente escolar e pela própria sociedade pode esconder práticas que acabam também incentivando a discriminação de gênero, que, na maior parte das vezes, faz como vítima o lado feminino.
“As meninas são sempre elogiadas por ficarem quietinhas, mais comportadas. É comum ouvir colegas de trabalho dizendo que esse é o comportamento de uma moça. Quando a situação é inversa, ou seja, uma menina mais agitada, fatalmente ouviremos a seguinte repreensão: 'não é assim que uma moça bonita se comporta”, diz a professora de Educação Física, Debora Ferreira, que atua na rede pública do Distrito Federal.
Embora o relato apresente uma cena cotidiana, comum em todo país, o incentivo dessa prática nas escolas brasileiras vem chamando a atenção do governo. Preocupado com o baixo índice de mulheres em profissões que requerem mais ousadia e inovação, o governo colocou como meta, qualificar, até 2014, meio milhão de professores nas questões de gênero e diversidade.
De acordo com a ministra Iriny Lopes, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SEPM) órgão ligado à Presidência da República, a decisão tem o intuito de iniciar uma mudança cultural a longo prazo, que tenha reflexos na condição da mulher no mercado de trabalho.
“Uma das nossas metas é chegar em 2014 com meio milhão de professores formados em gênero e diversidade, um programa que está sendo coordenado pelo Ministério da Educação. Temos que dar escala a essa formação e melhorar as condições para trabalhar a autonomia das mulheres”, enfatizou a ministra que logo que assumiu a SEPM, se surpreendeu com os dados de gênero revelados pelas Olimpíadas de Matemática.
Uma observação feita pela própria idealizadora e coordenadora da competição, Suely Druck, demonstrou que nas séries iniciais, a participação de meninas é praticamente igual à dos meninos. Já nas séries mais adiantadas, o percentual de meninas participando da competição nacional cai drasticamente. “O que acontece é que elas são direcionadas para outros focos, que não a matemática. Como a matemática é uma ciência exata, ela é mãe da engenharia, da física, da química e outros espaços científicos, onde predominam os homens”, considera a ministra.
“Esse direcionamento é feito pela família e também pela escola. As meninas vão, aos poucos, migrando para as áreas de assistência social, educação. Tudo que trata da área de cuidar do outro. Ficam com os meninos as áreas de mais ousadia e inovação. Isso é parte da explicação do porquê temos tão poucas mulheres cientistas”(grifo meu) , destaca Iriny.
“Tomei conhecimento de um dado e nós vamos trabalhar com isso. Nós temos um protocolo assinado com o governo americano para desenvolvermos ações no sentido de enfrentar a discriminação das mulheres no meio científico e tecnológico. Por que não há produção com um olhar de gênero nas universidades? Por que a presença de cientistas mulheres é tão baixa? Por que temos tão poucas mulheres em cargos de direção de institutos tecnológicos e de pesquisa científica no Brasil?”(grifo meu), questiona a ministra.
Um caso emblemático dessa cultura foi o lançamento, em 1968, da primeira boneca Barbie que falava. Uma das frases da sequência repetida pela boneca era “eu odeio matemática”.
“Sem uma mudança de cultura, não adianta ter Lei Maria da Penha cumprida integralmente, não adianta ter equidade de gênero cumprida integralmente, se não se prepara as futuras gerações para outras posturas. Quando falamos em escola, não queremos falar somente em vagas para mulheres estudarem, até porque, hoje temos a maioria de mulheres com maior tempo de estudos do que os homens”, destacou a ministra.
A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2010, que busca fazer uma análise das condições de vida no país, tendo como principal fonte de informações a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, demonstrou que, mesmo mais escolarizadas que os homens, o rendimento médio das mulheres continua inferior ao dos homens. As mulheres ocupadas ganham em média 70,7% do que recebem os homens. A situação se agrava quando ambos têm 12 anos ou mais de estudo. Nesse caso, o rendimento delas é 58% do deles.
“O maior nível de escolaridade não fez todos iguais no mercado de trabalho nem fez com que os salários fossem iguais entre homens e mulheres para as mesmas funções. Infelizmente isso [o maior nível de escolaridade] não serviu no Brasil para alçar as mulheres a cargos de poder, de decisão, de chefia”, destaca Iriny.
De acordo com a Pnad, as mulheres trabalham em média menos horas semanais (36,5) que os homens (43,9), mas, em compensação, mesmo ocupadas fora de casa, ainda são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos, dedicando em média 22 horas por semana a essas atividades contra 9,5 horas dos homens ocupados.
Edição: Lílian Beraldo
14 de abr. de 2012
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» Discriminação de gênero tira mulheres de áreas exatas e preocupa governo

Acho que essa matéria abre uma discussão interessante, mas vejo um pré-julgamento da autora em achar que as ciências ditas exatas são essencialmente mais importantes do que o que ela chamou de "cuidar do outro". Por que as áreas de exatas são as "áreas de mais ousadia e inovação"? quem determinou isso? Penso que a predominância masculina nos cargos "científicos" deve ser visto como uma constatação e não como um comprovante de ação discriminatória da sociedade. Seria o mesmo que os homens reclamarem da predominância feminina nas áreas de educação, assistência social etc. Segundo essa perspectiva também está havendo discriminação com os homens que não querem ser "cientifistas".
ResponderExcluirEu sou realmente a favor da igualdade de gêneros, mas acho esse tipo de atitude do governo um desperdício. Falo isso porque enquanto eles ficam preocupados que existem menos mulheres cientistas do que homens, o Brasil perde DE LONGE de outros países em números totais de cientistas. A educação de uma forma geral já é deficitária no Brasil, e ao invés de tratar o problema pela raiz, eles ficam tratando de sintomas. Se fizessem da Educação uma prioridade para todos os Brasileiros, em menos de uma geração teríamos uma verdadeira paridade entre os sexos. Pessoalmente, acho que esse esforço feito pela ministra vai ser mais um grande desperdício de dinheiro, algo corriqueiro nos ministérios brasileiros.
ResponderExcluirAs opiniões supracitadas são ótimas e bem pertinentes. Estou no meu 3º curso de graduação e já percebo que as mulheres têm uma tendência a "fugir" dos cargos de chefia ou que envolvam pesquisa científica. E, creio, essa questão da educação básica ser responsável pelo "comportamento da mocinha" não ser tão ABSURDA como a autora propõe: muito pelo contrário, vejo uma relação, até, feminista e auto-preconceituosa. É como, analogamente, citar o sistema de cotas para negros (espero ter clarificado o pensamento, ainda que muito delicada seja a questão) em cursos superiores (vestibulares). Quando cursei Educação física, 70% ou mais dos acadêmicos eram mulheres; quando cursei bacharelado em matemática, menos de 10%; cursando letras, faço parte de míseros e ínfimos 0,5% (isso mesmo!) de homens literatos. Porém, pouquíssimas (de 99,5%!!!) são as colegas que anseiam pesquisas, ciência, mas já detêm o olhar em escolas primárias (e as segundárias?! o ensino médio, como fica?!) e não têm qualquer empatia pela ciência. Se, como propõe a pseudo-ideologia da liberdade sexual quanto à opção da mesma, o ser humano já nasce APTO (vejamos até onde vai a incoerência dos pensamentos pseudo-científicos, mas absolutamente eleitoreiros) à heterossexualidade ou à homossexualidade, devido às mesmas circunstâncias, todos já nascem APTOS ora à ciência, ora à licenciatura, ora à qualquer coisa existente no mundo. Seria procedente? Entretanto, sou adepto ao pensamento que diz que "se oportunizar jogos lógicos, blocos de montar à uma criança, certamente ela tenderá às exatas ou raciocínio lógico aguçado; se entregar-lhe contos, Antoine Exupery etc, ela se renderá aos encantos da literatura..." A área de humanas está repleta de ciência, posto que toda ciência fora advinda da filosofia. Há, sim, um olhar discriminado sobre essa linha científica - tanto que, até hoje é difícil definir determinados objetos de estudo, já que a base científica parte de preceitos matemáticos, e Ferdinand Suassure foi químico e físico...eu fui matemático -. Quanto à educação, passei, por exemplo, por 3 áreas distintas, e fui bem em todas: sou apaixonado pela educação (independentemente de ser física, tenho meus méritos na área de saúde, nos quais o conhecimento adquirido não se esvaiu), pela matemática (e, diga-se de passagem, só há matemáticos, contadores na minha família) e, por fim, pela poesia (escrevo desde muito cedo, meu "mentor" é Vinícius de Moraes, mas Cecília Meireles foi meu vestíbulo em 1991 com o poema "Motivo"). O que deveria, de fato, ser marca de "escola ideal" para uma formação plena do indivíduo (como almeja a sociologia) é proporcionar a verdadeira polivalência, ao invés de um ridículo sistema que só vislumbra aprovação em vestibular e, a posteriori, o resultado deplorável: PÉSSIMOS pesquisadores, horríveis cientistas e trágicos profissionais sem perspectiva alguma de vida.
ResponderExcluirSem mais, seria legal debater mais a fundo o tema... há muito o que ser pensado.
Paz e bem!